Um admirável mundo novo para a Educação

Há 90 anos atrás, Aldous Huxley publicava um livro1 onde abordava o tópico da mudança no ensino, como que antecipando o que parece, agora, estar breve. Nele, o autor debruçava-se sobre tópicos como a democracia, inteligência individual e ensino. Não é espantoso que estes tópicos estivessem na ordem do dia, são por excelência tópicos importantes, com peso para a sociedade e com interessantes pontos de vista e cujos resultados são avaliáveis em menos de 20 anos. Mas a previsão de Huxley nada tinha de animadora.

É hábito haver um pendor nos discursos que oscila entre as (novas) tecnologias, ameaças de guerras nucleares (ou piores) e o fim do mundo sobre a forma de uma catástrofe natural à escolha, num estilo particularmente maquiavélico.

Dramatismos à parte, teremos de incluir nesta narrativa outra área com potencial para alterar ou se quiserem enfrentar o futuro, a Educação. Estamos a falar, teoricamente, de pelo menos 12 anos da vida de um indivíduo, que se espera “estar pronto” para fazer parte de um qualquer mercado de trabalho aos 18 anos, dois terços da sua vida no momento. Não é pouco.

O sistema de ensino já viu melhores dias, mas a questão é mais profunda do que parece ser à primeira vista. Teremos de talvez revolucionar o ensino ao invés de reformar. Teremos de pensar que cidadãos queremos formar para que estes se encontrem o melhor preparados para enfrentar o futuro, isto começa, claro está, nas crianças.

A era da tecnologia é inegável e com ela têm vindo a desaparecer os trabalhos técnicos desempenhados por humanos. A inteligência artificial está em rápido desenvolvimento e a equipa OpenAI2 do Elon Musk demonstrou isso há cerca de 6 meses atrás.

Todos os sectores da sociedade poderão ser afectados. Ao ritmo a que tudo tende a ficar automatizado a cada dia, não estará longe um futuro com fábricas, transportes e serviços totalmente desprovidos de humanos. Fala-se numa substituição de cerca de 800 milhões de empregos humanos por máquinas até 2030. Surgirão com eles novos empregos, mas longe dos empregos de outrora e é necessária uma adaptação por parte do ensino. O modelo actual, em praticamente todo o Mundo, é o mesmo criado quando surgiu a Industrialização e com o intuito de a satisfazer. Com o aparecimento de uma nova era, será fundamental adaptar ou reformular este sistema para as necessidades dos nossos dias. A escola de hoje em dia mata a criatividade das crianças3 mais tarde ou mais cedo. O sistema está montado para que o aluno funcione para o sistema e não o sistema para o aluno. Este é visto apenas como um recipiente para onde será vertido todo o conhecimento futuro.

Grande parte dos alunos acabam por fazer o seu percurso escolar e sentem que o que aprendem não tem utilidade e por isso o interesse pura e simplesmente não existe. Esta sensação continua muitas vezes pela vida adulta e não é invulgar encontrar pessoas, um pouco por toda a parte, que não gostam, nem se identificam com o que fazem, apenas aguentam o trabalho e esperam pelo fim de semana. Isto é um problema.

É urgente uma revolução no ensino que permita desenvolver a criatividade e adaptabilidade. Estas são apontadas pela maior parte dos directores executivos das maiores empresas como as “armas” a ter para aguentar um negócio num futuro incerto.

Se nos ensinam coisas que as máquinas brevemente farão melhor que nós, qual é então a “nossa” utilidade?

Posto isto, convém repensar o modo como devemos preparar os jovens, para que estes possam ser competitivos e fazer a diferença, num futuro onde as máquinas irão substituir os humanos em muitos trabalhos, em particular os trabalhos técnicos. Cabe-nos a todos, então, reflectir e descobrir onde nos conseguiremos inserir neste novo mundo.

Referências:

[1] – Huxley, Aldous. “Sobre a Democracia e outros estudos”. Edição Livros do Brasil. 1927.

[2] – https://www.blog.openai. com/dota-2/

[3] – https://www.ted.com/tal ks/ken_robinson_says_schools_kill_ creativity#t-346285

 

Rui Carvalho

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