Portugal e a Ciência: De onde veio, como está, para onde vai

A ciência tem ganho em Portugal cada vez mais adeptos, isto reflete-se não só no aumento exponencial da comunidade científica Portuguesa mas também na sociedade em geral que olha a ciência de forma curiosa e interessada. Esta situação, bastante positiva em termos absolutos está, no entanto, envolta em todo um contexto menos simples, o que faz surgir várias perguntas, nomeadamente, quais são as causas deste aumento, qual a atual situação da comunidade científica, as suas perspetivas e o que Portugal lucrou e pode ainda vir a lucrar com o mesmo.

Na atualidade, a ciência aparece bastante disseminada pela sociedade, isto deve-se sobretudo ao valoroso (também por vezes mediático e inverosímil) papel dos media, aos esforços da própria comunidade científica em informar de forma mais eficaz a população e a um aumento socialmente transversal da formação académica da população. Assim, seja pela disseminação de informação, pelo gosto do conhecimento baseado em verdades empíricas ou ainda pelo simples aumento da população universitária, cada vez mais gente opta por se formar na área das ciências e se tornar membro de uma comunidade científica bastante prezada a nível Europeu.

No entanto, embora Portugal esteja em termos de publicações científicas per capita à frente de países como a França e a Alemanha, a sua comunidade científica encontra-se a braços com uma grande precariedade. Qual a razão da mesma? Como na atualidade a ciência é realizada sobretudo à sombra de organismos estatais (universidades públicas) a falta de investimento governamental e os sucessivos cortes levaram à existência de um superavit de mão de obra qualificada, o que conduz em última instância à dramática “fuga de cérebros”. Daqui destaca-se ainda uma outra situação infeliz e que os inexperientes novos cientistas estão a sofrer na primeira fila: o uso da lei da oferta e da procura contra eles. Como diz a antiga lei, quando a oferta supera a procura, a procura tende a fazer exigências neste caso a proclamar salários baixos, negação de assistência social e banalização dos direitos laborais. Apesar das novas gerações serem as mais afetadas, toda a comunidade científica acaba por ser prejudicada, não só pelo sobrecarregamento a que ficam sujeitos os seus membros mais antigos, mas também pela desensaboria que é saber que vários lusitanos patrocinam grandes descobertas noutros países com outras comunidades científicas, quando poderiam patrociná-las cá.

Contudo, esta situação não é diferente de outros países (vários estão a braços com cortes), o grande problema aqui é cultural… A denominada “crise económica Portuguesa” é uma sina que vai fazer no próximo ano da graça de 2043 uns exatos 900 anos, e tem sido usada como justificação para alguma ociosidade ou pouca vontade de investir em novos caminhos ou soluções. Não se quer com isto dizer que realmente não haja uma situação económica pouco favorável ou que não tenha já havido tentativas falhadas de empreendimento. No entanto essas tentativas falhadas são também resultado de uma legislação pouco eficaz e acima de tudo de ser uma comunidade recente e pouco instruída nos ideais do “bioempreendorismo”. Ao se dizer que é uma comunidade recente é preciso perceber que apesar de se fazer ciência em Portugal desde antes dos Descobrimentos, a mesma sempre esteve sujeita a grandes imposições e a pouca margem de manobra, tendo este paradigma unicamente sido superado nos últimos 30 anos, a partir do frutífero trabalho de José Mariano Gago e da sua equipa, que dotaram Portugal das infraestruturas e docentes necessários à formação desta atual comunidade. Desta forma é urgente que a comunidade científica como um todo se debruce sobre o empreendorismo como uma forma viável de solucionar o drama da precariedade das camadas mais jovens, ao invés de se requerer do Estado mais condições ou emprego deve-se, portanto, requerer alterações legislativas e incentivos estatais eficazes à construção de novos  negócios na área da ciência, com vista a fazer a passagem de uma produção científica predominantemente nas mãos públicas para uma associação de privados, tendo como exemplo de sucesso o tão próximo BIOCANT em Cantanhede fruto da obstinação, vontade de mudança e capacidade empreendedora de membros da nossa comunidade que projetaram um pólo científico com visão a longo prazo.

Portugal, com base na sua comunidade científica, tem tido uma boa projeção a nível internacional, seja pela peculiar forma de trabalhar à Portuguesa (arte do desenrascanço) que se traduz em resultados positivos, seja pelas várias publicações científicas efetuadas, além disso, a existência de uma comunidade científica capaz e dinâmica tem sido fulcral para lidar e resolver assuntos referentes ao ordenamento do território e da ação administrativa sem a necessidade de se recorrer a estrangeiros. Uma boa forma de melhorar esse mesmo contributo passa assim pelo governo atrair investidores estrangeiros para os potenciais novos negócios na área das ciências que possam vir a surgir, apostar nas áreas científicas que conduzam a resultados mais lucrativos a longo prazo como é o caso da bioinformática e dos assuntos do mar (novo desígnio nacional atualmente em expansão), construir e manter as infraestruturas necessárias ao aparecimento de novos pólos científicos e promover os mesmos de forma a criar mais emprego e por isso maior fonte de rendimentos estatais.

 

João Castanheira

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