A idade do tempo

Estima-se que o Universo tenha cerca de 13,7 bilhões de anos. Estima-se que o planeta Terra tenha 4,5 bilhões de anos, que a vida surgira há cerca de 3 bilhões, e que os primeiros representantes do homem moderno tenham aparecido há sensivelmente 200 mil anos. A esta escala, quanto tempo duramos?

Diria que cada um de nós tem direito a apenas uma ínfima fração de segundo da História do Universo. Estamos cá (pelo menos materialmente) muito pouco tempo. Para uma qualquer estrela de uma qualquer galáxia de uma qualquer parte do infinito, o tempo que temos não chega a ser suficiente para que ela perceba sequer que existimos (e isto, claro, partindo do pressuposto que as estrelas entendem noções como a do tempo, e que estão minimamente importadas connosco…o que, sinceramente, duvido). Basicamente, a nossa vida é efémera, e essa efemeridade agrava-se quando analisamos a cronologia desde o início dos tempos. Temos o tempo contado e ele parece-nos muito pouco, principalmente se quisermos fazer a diferença. Sim, porque fazer a diferença não exige só trabalho, também exige tempo. Mas o que é, realmente, fazer a diferença? Sempre me preocupei muito com isso. Confesso que o conceito de finitude e de esquecimento nunca me foram muito aprazíveis. Sempre admirei “aqueles que por obras valerosas se vão da lei da morte libertando” e sempre estive convicta que ser um deles é um bom objetivo. E é. Mas, se há algo de realmente incrível e surpreendente neste acaso científico ou neste plano calculosamente premeditado por algo ou alguém misterioso, é a capacidade de certas coisas para moldar as nossas conceções, permitindo-nos o real conhecimento dos nossos desejos. Gosto de pensar na beleza quântica, atómica, molecular e infinita que permite a existência de algo como o amor. E é quando fecho os olhos e penso nessa melodia jorrante de emoções que entendo o que pode significar fazer a diferença. E é nisso que o amor me muda um bocadinho: na sensação de me libertar da “lei da morte” por apenas amar. Mas calma, porque isto não deixa de ser algo desconcertante. Não é assim tão fácil aceitar que afinal poderá não ser preciso mudar o mundo inteiro para achar que a vida vale a pena e que se fez a diferença. Talvez o nosso mundo se concentre em alguém muito especial que apenas precisamos de ver sorrir para nos sentirmos os maiores sortudos do Cosmos, sem que isso faça de nós menos decididos ou ambiciosos. Porque não faz, apenas nos complementa.

Talvez as coisas mais belas sejam aquelas que não têm idade, aquelas que nascem sem se perceber bem como e que parecem nunca acabar. Essas coisas, não mensuráveis, estão muito além da escala do tempo, mas são as responsáveis pelo sentimento de que o tempo vale a pena. Podem pensar que este texto é apenas uma tentativa de me sentir menos impotente perante a grandeza do tempo. Podem pensar que não passa de um mero desabafo, completamente sem sentido. E eu posso pensar que, com o tempo, me vou arrepender de ter escrito estas palavras. Mas, por agora e durante o tempo que me for permitido, simplesmente desejo ter tempo suficiente para apreciar as coisas que não têm idade, para que, além dos tempos e no coração de alguém, consiga ser eterna…

 

Daniela Rosa

One thought on “A idade do tempo

Leave a comment