O estado da arte da Ciência em Portugal: a evolução na instabilidade

Refletir acerca do estado de arte da ciência em Portugal leva-me inevitavelmente a uma retrospetiva, na tentativa de perceber se esta evoluiu nos últimos anos ou se, por outro lado, estagnou. Esta questão é-me particularmente pertinente, na medida em que iniciei há pouco tempo a minha tese de mestrado e, como novata no mundo da investigação, tenho-me interrogado acerca da ciência em Portugal. Neste texto, pretendo responder à questão “Qual o estado da arte da ciência em Portugal”, pelo que tentarei abordar alguns dos aspetos revelantes do panorama científico do nosso país, tais como: como está a ciência; como é a vida de um cientista em Portugal; a formação científica; as consequências do excesso de informação diária; e como podemos, enquanto cientistas, promover a ciência. Na base dos meus argumentos estarão a minha – ainda pouca – experiência no terreno e alguns artigos que tenho lido acerca destes temas.

Para começar, considero ser bastante útil e pertinente recorrer a uma entrevista do Jornal Público, de 9 de novembro de 2017, na qual o físico Carlos Fiolhais e o bioquímico David Marçal discutem o estado da ciência em Portugal. Nesta entrevista, Carlos Fiolhais afirma que nos últimos 20-30 anos a ciência em Portugal experienciou o seu “Big Bang” devido ao aumento do dinheiro investido em ciência, cujo montante duplicou nas últimas duas décadas. Contudo, o mesmo afirma que este investimento está ainda muito aquém do desejável.

Na minha opinião, o dinheiro aplicado na ciência deve ser entendido como um investimento na formação e na cultura, permitindo a valorização e o crescimento do país. De acordo com o orçamento de estado de 2018, haverá um aumento no investimento na fundação para a

ciência e tecnologia. Este investimento deverá traduzir-se de diferentes formas, nomeadamente na abertura de um concurso para doutorados, que pela primeira vez oferece contratos de trabalho em vez de bolsas. Esta medida surge de forma a “combater” o elevado número de doutorados em Portugal nos últimos anos. Anualmente, graduam-se cerca de 500-600 doutorados em Portugal, sendo esta uma consequência do investimento na ciência e da abertura de bolsas de projeto de doutoramento. Desta forma, a abertura de contracto para doutorados pretende reforçar o emprego científico e promover as atividades científicas e tecnológicas.

Paralelamente, o número de publicações científicas em revistas internacionais aumentou. Quando comparada com outros países europeus onde o orçamento para a ciência e tecnologia. Este investimento deverá traduzir-se de diferentes formas, nomeadamente na abertura de um concurso para doutorados, que pela primeira vez oferece contratos de trabalho em vez de bolsas. Esta medida surge de forma a “combater” o elevado número de doutorados em Portugal nos últimos anos. Anualmente, graduam-se cerca de 500-600 doutorados em Portugal, sendo esta uma consequência do investimento na ciência e da abertura de bolsas de projeto de doutoramento. Desta forma, a abertura de contracto para doutorados pretende reforçar o emprego científico e promover as atividades científicas e tecnológicas.

Paralelamente, o número de publicações científicas em revistas internacionais aumentou. Quando comparada com outros países europeus onde o orçamento para a ciência é substancialmente mais generoso, a produção científica portuguesa por investigador e por euro investido é bastante elevada. Na realidade, Portugal é o 11º país europeu com maior número de publicações científicas por habitante, ultrapassando a Espanha, Alemanha, Inglaterra e Itália. Nos últimos anos, o crescimento da produção científica em Portugal teve altos e baixos: entre 2005 e 2010 era 69%, descendo para 50% entre 2010 e 2015. Atualmente, a tendência é de aumentar novamente.

Devido ao aumento do número de doutorados, cada vez mais, se discute a carreira profissional dos mesmos e quais as suas expectativas de futuro. Na minha opinião, a carreira profissional após um doutoramento pode ramificar-se em diferentes vertentes: pós-doutoramento, técnico laboratorial, comunicação de ciência, entrada em empresas, entre outras opções. Penso que, essencialmente, a decisão deve passar por cada um, tentando perceber o percurso que tente fazer.

Em alternativa à carreira académica, os doutorados escolhem ingressar cada vez mais em empresas, na tentativa de uma vida profissional mais estável. Contudo, a inserção de doutorados em empresas continua ainda a ser um desafio. Em Portugal estima-se que apenas cerca de 4% dos doutorados estão a trabalham no sector privado. Esta é uma das percentagens mais baixas da união europeia. Por exemplo, na Dinamarca, cerca de 38% dos doutorados estão integrados em empresas. Em Portugal, a baixa percentagem poderá ser uma consequência da existência, maioritariamente, de micro e pequenas empresas, que não tem rentabilidade suficiente que justifique a inserção de doutorados. Considero que a entrada destes profissionais qualificados numa empresa permite a valorização e a modernização tecnologia da mesma.

Por outro lado, verifica-se que alguns doutorados optam pela criação de empresas próprias ou startups que permitem a aplicação da investigação efetuada e do conhecimento adquirido. Exemplos de locais que acolhem estas startups são o Biocant e o Instituto Pedro Nunes. Em suma, considero que um doutoramento não deve ser entendido com um fim ou um fechar de uma porta, mas sim como uma valorização profissional que permite a abertura de diferentes janelas que podem ser preenchidas de acordo com os objetivos pessoais.

Há outra questão que considero bastante pertinente de abordar. A ciência é refém do conhecimento, das relações causa-efeito e da existência de provas que fundamentam a teoria. Contudo, fruto da imensidão de informação com que somos confrontados todos os dias – muitas vezes contraditória – e devido à falta de cultura científica na população em geral, há cada vez mais difusão de ideias erradas e a criação de movimentos perigosos que sustentam a sua existência em factos (pouco) científicos. Por exemplo, os movimentos contra a vacinação ganham cada vez mais visibilidade, a homeopatia tem cada vez mais defensores, e há a propagação de ideias erradas em várias áreas, como dietética e no desporto. Estas ideias e movimentos são normalmente criados e alimentados nas redes sociais, recorrendo a termos científicos, na tentativa de se aproximar à ciência, e com expressões complexas e poucas claras. Alimentando-se da falta de cultura científica para se difundirem. Há quem as defina como pseudociências.

Para combater alguns destes movimentos, considero que a divulgação de ciência é bastante importante. A comunicação de ciência poderá ter um papel fulcral na evolução da ciência e na harmonização da relação entre o cientista e a sociedade em geral. Desta forma, o trabalho do cientista é – ou, pelo menos para mim, deve ser – tentar transmitir o seu trabalho à sociedade, na medida em que esta transmissão de informação permite a valorização da mesma. Esta transmissão pode ser feita através de eventos em museus, dias abertos nas faculdades, feiras de ciência, entre outras opções. Consequentemente, a aproximação à sociedade torna-a mais sensível em relação às questões abordadas pelos cientistas. Assim, o investimento na ciência é mais facilmente justificável e a sociedade fica mais suscetível à necessidade de apoio e de investimento na ciência.

Para além do papel do cientista em difundir a ciência, os meios de comunicação social têm igualmente um papel importante, através da transmissão de notícias de ciência de uma forma correta e plausível. Isto é possível se os meios de comunicação social apostarem em sessões específicas de ciência, com pessoas especializadas na comunicação de ciência, o que permitirá a difusão correta da mesma.

Em suma, podemos concluir que o caminho ainda é longo… Na minha opinião, a consciencialização do valor da ciência para o estabelecimento de uma sociedade mais equilibrada e justa permitirá a evolução da ciência em Portugal através de um maior investimento na mesma. Agora, deixo-vos com uma questão: estamos juntos nisto? Vamos lutar pelo crescimento da ciência?

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