(Quimio)terapeuticamente ultrapassado?

Nos dias de hoje, pressupomos que o desenvolvimento científico é a resposta e por vezes a causa de quase todos os problemas que enfrentamos. No entanto, se fizermos uma breve análise à suposição em questão, chegamos a uma conclusão extremamente óbvia e assustadoramente concisa, ou seja, como se pode calcular, por mais desenvolvido que o homem esteja, tanto a nível intelectual e até emocional, teremos sempre questões em aberto e problemas recorrentes.

Atualmente, o cancro é uma das principais causas de morte no mundo, mas apesar dos avanços tecnológicos a nível do diagnóstico, esta doença permanece ainda uma espécie de desafio e por vezes incógnita na área da saúde. Basicamente, a patologia consiste na proliferação anormal/descontrolada de células, que podem invadir ou danificar os tecidos e órgãos circundantes. Por mais simples que esta breve explicação nos possa parecer, estamos na presença de um tema bastante complexo, que suscita de uma observação muito mais aprofundada… O corpo humano é constituído por triliões de células que se multiplicam através de um processo chamado divisão celular e este por sua vez, tem vários mecanismos de controlo, de modo a evitar erros, sendo também responsável pela formação, crescimento e regeneração dos tecidos saudáveis do organismo, logo estamos perante um acontecimento imprescindível para a geração e perpetuação da vida. Entretanto, tal como uma máquina, o corpo humano até pode ter uma taxa de insucesso mínima, mas apresenta-a e este facto é suficiente para trazer danos irreversíveis e, em alguns casos, causar uma “avaria sistémica”.

Passando à frente, um dos métodos tradicionais mais usados no tratamento desta doença é a quimioterapia, que consiste na administração de fármacos quelantes que destroem células cancerígenas, visto que estas possuem um alto teor em Cu2+, daí o uso de ligandos seletivos para o mesmo (este fator, interfere com os processos de crescimento e divisão das células neoplásicas). Embora esta terapia seja bastante eficaz, infelizmente, acarreta consequências muito negativas para o nosso organismo, devido à falta de especificidade, pois afeta também as células saudáveis como por exemplo, células sanguíneas e células que revestem as mucosas da boca, intestino e folículos capilares, levando ao aparecimento de sintomas indesejáveis e incapacitantes (cansaço, náuseas, vómitos e diarreia). No entanto, tendo em conta todos os efeitos negativos que a quimioterapia pode causar, esta ainda é uma técnica bastante usada quando se trata de tumores malignos.

Outro recurso (provavelmente o mais interessante do ponto de vista clínico) que se tem vindo a desenvolver nos últimos anos é a imunoterapia, que apesar de ainda não ser recomendada para todos os tipos de cancro estimula o sistema imunitário, de modo a combater esta doença.  Ao longo da última década, tem-se assistido a um acréscimo de ensaios clínicos, quer em contexto paliativo, quer como adjuvante. Os resultados demonstraram o seu benefício no controlo de alguns tipos de cancro, como o melanoma, o cancro do pulmão, da bexiga, do rim e linfomas. Existem diferentes tipos de imunoterapia, que podem ser dadas em forma de medicamento ou através de terapia de células estaminais, ou seja, são extraídas células imunes do doente que são modificadas em laboratório para atacar as células neoplásicas, quando injetadas novamente no corpo do paciente. Os efeitos desencadeados pela imunoterapia são muito diferentes dos da quimioterapia, não sendo tão agressivos para o corpo humano, mas observam-se alguns sintomas de autoimunidade, devido à reação do sistema imunológico contra as células normais do organismo, sendo os mais frequentes a vermelhidão e secura da pele, diarreia, colite, hepatite e problemas na tiroide. Finalmente, por mais que a imunoterapia seja um método inovador e bastante eficaz, nalguns casos, apresentando sintomas muito ligeiros em comparação com a quimioterapia, este recurso ainda se encontra em desenvolvimento. No entanto, decerto que com mais estudos clínicos e avanços tecnológicos, teremos resultados mais promissores, que provavelmente nos farão abandonar as técnicas mais tradicionais.

Mara Baptista

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